Antes da espera.

Novamente amanhece e não consigo abrir a janela. Suportar a claridade do dia não faz sentido depois que a sentença foi dada.
Três meses e apenas isto. Os dias passam tão depressa com toda angustia e medo que ainda sinto.
Como podem dizer para aproveitar o tempo que me resta?
Não consigo me sentir feliz sabendo que logo terei que ir embora para um lugar desconhecido.
Abri mão de todos os sonhos, e do futuro que imaginava daqui três anos. Ele apenas não existe mais.
Ficar perto das pessoas que muito amo aperta meu coração, que ás vezes desejo tanto que pare de bater antes da data esperada, para acabar com o meu sofrimento e de todos que estão a minha volta. Eles também não conseguem suportar sozinhos.
Eu partirei com as dúvidas que me sondam. Deus é realmente justo? Por que está fazendo isso comigo?
Dezoito anos e ainda não me apaixonei, não verdadeiramente a ponto de sentir aqueles sintomas tanto esperados quando estamos com alguém.
Mas dei valor a cada mínimo detalhe da vida, nunca deixei de reparar o quanto o simples me chama gentilmente a atenção.
Espero que quando chegue à hora vá para qualquer lugar que também tenha um céu, onde exista campos e flores, uma grande macieira repleta de frutos perto de um rio azul.
É fácil pensar em todas as coisas que quero como apenas desejos fictícios.
Simplesmente imagine um cenário vazio, desconhecido. Preencha-o de acordo com o que te encanta, enquanto sabe que não pode nada, além disso.
O câncer é terminal, não há possibilidades de restabelecer a minha saúde, enquanto ainda rezam a espera de um milagre.
Acredito que nada aconteça, e não tenho tempo para acreditar em qualquer bobagem.
Eu só queria que não corroesse tanto, como um ácido jogado em cima de uma grande ferida.
É tão difícil que não tenho forças para esperar, sabendo que o que me resta é decidir o que quero fazer com tudo que ainda tenho.
É uma noite fria, o vinho sob a mesa e minha taça ainda cheia. Moro no vigésimo andar e a vista está tão linda com tantas luzes e estrelas.
Abro a janela para sentir o vento que toca minha pela tão calmamente, como se fosse o momento perfeito para qualquer despedida.
Uma coisa é certa, sempre quis saber como que era voar.


1 comentários:

m.campos disse...

''Uma coisa é certa, sempre quis saber como que era voar.''

PERFEITO.