A favor do vento.

Frio e implacável este vento, mas acabo de fechar todas as portas para que tenha a desejada segurança.
Ele causa certo medo, e insiste em sacudir as janelas, para que seja necessária a importância da persistência em se manter como um forte temporal.
Escondia-me no ato mais covarde, evitando os danos que poderia me causar. A fuga não foi a melhor escolha, já que não possuía o abrigo mais seguro onde ele não pudesse me encontrar.
Uma pequena pausa entre tantas palavras expressas, para que reflita com atenção que os sentidos não serão notados pelos olhos, sim pelo coração.
Tantas tempestades já me arrastaram para os mares mais distantes, e não era fácil caminhar sozinha, na esperança de poder encontrar o caminho de volta para casa.
Então construí uma muralha, e acreditei por muito tempo que nenhuma outra tempestade poderia derrubá-la. Acreditava cegamente que estaria preparada para enfrentar qualquer obstáculo que se atrevesse em dificultar meus dias calmos e seguros.
A monotonia era constante, como qualquer reação contrária frente às mudanças que não eram aceitas.
Apareceu como uma leve brisa, com o toque mais doce e perfeito.
Aproximou-se sem que eu notasse, sem que ao menos soubesse retirar a culpa do estrago que causaria.
Não podíamos ter certeza, enquanto eu abria a janela para que tocasse minha face sem que pudesse cortá-la.
Sem controle algum sobre a espontaneidade dos movimentos abri a porta, e ela entrou depois de ser convidada.
Compartilhamos momentos felizes, e dividimos nossas histórias perante todas as dificuldades.
Ao me dar conta da precisão que sentia da frieza instável da sua presença, tentei fechar a casa. Mas já era tarde, aquela leve brisa crescera e não se tornara pequena.
Derrubou a minha muralha me deixando sem saída, a minha força estava perdida como também a minha razão.
Ao me ver sem refúgio fiquei recuada num canto escuro daquela casa vazia.
Sem que pudesse distinguir o verdadeiro sentido de realmente amar. Amar o que não pode ser tocado, na exatidão do que me faz sentir medo, angústia, tormento.
Amar a falta incompleta que faz parte do que realmente sou.
E enfim acreditar no amor mais vago, passageiro, para que possa novamente criar uma nova estrada.
Me encontro perdida, em outro mar distante sem que ao menos possam ouvir meus pedidos de socorro.
Eu continuo sozinha para encontrar o caminho de volta, e entre tantas passagens outros vendavais me arrastarão para rumos diferentes.
A incerteza de qualquer lugar seguro é o que me faz acreditar que nada pode se manter intacto, como qualquer falha admitida no simples ato de coragem.
Qualquer permanência não tornaria melhores nossos erros. O erro de caminhar na direção contrária e não a favor do vento. Esquecendo que ainda existe o nascer do sol.


Read Users' Comments ( 2 )

A Espera.

O que existe de melhor no amor, são aqueles que vivenciam.
No gesto, as mãos que se encontram.
No sorriso, a sinceridade que o tenha causado.
Nos olhos, o brilho intenso, duradouro.
Na felicidade, o compartilhamento dos dias, na proximidade que se estendem.
O que me permite estar ao seu lado,
É a fragilidade compatível
Vital,
De tudo que é desconhecido frente ao seu senso de razão.
Limitaria o mundo,
Na clara coragem que a vontade nos proporciona,
Como o convite perfeito,
Esperado,
Atencioso,
Com detalhes irreparáveis de uma evidente precisão.
Então me enxergue claramente da maneira como o faço
Com que noto a espontaneidade dos movimentos,
Da face,
Dos sentidos,
Da alma,
Na sintonia que te faz dançar nas estações,
Na primavera,
Perto das flores e seus espinhos que nos fizeram sangrar.
Do perfume que carrego comigo,
Para que possa respirar as lembranças do que foi real.
A saudade que se estende não foi forte suficiente,
Para que te fizesse voltar outra vez.
Ainda espero pela próxima primavera.


Read Users' Comments ( 0 )

O arranjo perfeito.

Era outono, outubro, e já podia sentir o frio que entrava pela fresta da janela do nosso quarto.
Poderia me levantar para fechá-la, mas te vi dormindo pacificamente, interrompendo então meu gesto ao meio.
Uma nova manhã tão calma como todas as outras. Onde você toma seu café e lê pausadamente as notícias do jornal, evitando os mais simples comentários.
É sempre necessário ir além de qualquer conversa barata, mas tantas palavras silênciadas e sufocadas não trouxeram o inverno outra vez.
Então guarde o seu casaco, pois não existe frieza maior do que seu jeito de amar.
Qualquer resistência que faça mudar sua total indiferença ultrapasa o mais eficaz entendimento.
Fácil não é estar ao seu lado, pois não te tenho por perto. Não é saber do seu atraso, e sim da ausência que se faz presente nesta casa vazia.
São tantos pregos enferrujados que mal posso sangrar, neste coração dilacerado que já não pode mais se restaurar.
Acredite quando digo que as dúvidas não são apenas desafios indecifráveis, na medida que você sorri sem ao menos estar verdadeiramente feliz.
Esta luz que ilumina, que nos cega os sentidos perante as coisas nulas, te fez enxergar tão pouco o que foi apenas mostrado.
Apenas olhe em volta e decida qual caminho tomar, estarei a sua espera com a mesma confiança que me fez querer voltar.
Incondicional proteção, no gesto do abraço, no enlaço dos teus braços, no sopro das palavras, na forma exata dos segredos e uma clara precisão.
No brilho dos teus olhos, na paz do teu silêncio, no conforto da presença, no encaixe adequado de suas mãos.
Simples como um arranjo de nossas preferidas flores. Permita que nos aproximem, na mais perfeita combinação.


Read Users' Comments ( 2 )