Ela apenas não queria abrir a janela, pois lá fora havia sol, e tudo que fosse iluminado e quente a fazia lembrar tudo que ela queria simplesmente esquecer, mesmo que fosse claramente impossível não poderia arriscar-se outra vez.
Trancou-se então num quarto escuro para que existisse qualquer forma indefinida que a fizesse sentir segura outra vez, mesmo que a dor ainda pulsasse descompassadamente em seu coração.
Ninguém poderia de fato compreender o que acontecia, pois enxergá-la por dentro exigia uma atenção maior que o simples ato de unicamente olhar. Restrições nunca lhe chamaram mesmo tanta atenção.
Tinha vontade de abrir a janela, encarar o que lhe fazia sofrer, mas faltava-lhe coragem para tentar mais uma vez.
O medo nos torna susceptível a toda e qualquer fraqueza, restringindo nossa vontade de levantar e recomeçar de um ponto qualquer.
Já não sorria, não sentia esperança dentro de si. Não conseguia lembrar o que era sentir-se feliz. O tempo a consumira e junto dela os sentimentos reais.
Sobrou-lhe o vazio, o oco, o áspero, e uma alma sem vida é o mesmo que um coração infeliz.
Quando se lembrava do porque de tanto descaso sentia falta do amor que perdera, por não lutar para fazê-lo eterno e seu.
Mas lá fora o vento ainda soprava forte, entrando pelas frestas abertas de seu quarto escuro, fazendo-a sentir novamente, pois tocava o seu corpo, seu rosto, suas mãos. Então seus olhos brilharam sem que pudesse ver.
Quis abrir a porta, mas não havia porta, já não havia janelas nem mesmo um quarto escuro. O vento derrubou o telhado, levou o concreto e a fez livre para tornar o que quisesse ser.
Notou que a felicidade dependia de como escolhesse viver, e preferiu então olhar para o céu, o sol e tudo que fosse iluminado e quente. Então sorriu outra vez.


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