O arranjo perfeito.

Era outono, outubro, e já podia sentir o frio que entrava pela fresta da janela do nosso quarto.
Poderia me levantar para fechá-la, mas te vi dormindo pacificamente, interrompendo então meu gesto ao meio.
Uma nova manhã tão calma como todas as outras. Onde você toma seu café e lê pausadamente as notícias do jornal, evitando os mais simples comentários.
É sempre necessário ir além de qualquer conversa barata, mas tantas palavras silênciadas e sufocadas não trouxeram o inverno outra vez.
Então guarde o seu casaco, pois não existe frieza maior do que seu jeito de amar.
Qualquer resistência que faça mudar sua total indiferença ultrapasa o mais eficaz entendimento.
Fácil não é estar ao seu lado, pois não te tenho por perto. Não é saber do seu atraso, e sim da ausência que se faz presente nesta casa vazia.
São tantos pregos enferrujados que mal posso sangrar, neste coração dilacerado que já não pode mais se restaurar.
Acredite quando digo que as dúvidas não são apenas desafios indecifráveis, na medida que você sorri sem ao menos estar verdadeiramente feliz.
Esta luz que ilumina, que nos cega os sentidos perante as coisas nulas, te fez enxergar tão pouco o que foi apenas mostrado.
Apenas olhe em volta e decida qual caminho tomar, estarei a sua espera com a mesma confiança que me fez querer voltar.
Incondicional proteção, no gesto do abraço, no enlaço dos teus braços, no sopro das palavras, na forma exata dos segredos e uma clara precisão.
No brilho dos teus olhos, na paz do teu silêncio, no conforto da presença, no encaixe adequado de suas mãos.
Simples como um arranjo de nossas preferidas flores. Permita que nos aproximem, na mais perfeita combinação.


2 comentários:

Unknown disse...

Estremeci. Pára de ser perfeita, Carolina!

Unknown disse...

Cocotinha, Perfeito.